As recentes tarifas impostas pelo governo Trump às importações de carnes brasileiras e argentinas foram de 50% e 10%, respectivamente.
Ambos os países – Brasil e Argentina – são grandes produtores e exportadores de carne bovina. De acordo com o USDA, em 2024 o volume exportado pelo Brasil foi de 3,64 milhões de t, pela Austrália de 1,90 milhões, pela Índia de 1,56 milhões, pelos Estados Unidos de 1,36 milhões e pela Argentina de 0,93 milhão. Porém somente cerca de 12% da exportação de carne bovina brasileira foi destinada aos EUA.
A alíquota de 50% imposta à carne brasileira praticamente inviabiliza sua exportação para os EUA, o que já está acontecendo. Em compensação, a exportação brasileira para a Argentina cresceu acima de 700%.
Os mercados em geral estão interconectados. A redução de um ofertante, além de gerar escassez e pressionar os preços praticados, tende a ser atendida por outro em melhores condições. É o resultado da pressão da demanda impulsionando a busca de fontes alternativas de suprimento.
Neste contexto, nada impede que a Argentina entregue toda a sua carne bovina para os EUA (mediante a referida alíquota de importação de 10%) e reponha seus estoques visando abastecer seu mercado interno com carne brasileira cuja alíquota de importação (conforme acordo no âmbito do Mercosul) se encontra zerada.
O mesmo pode acontecer com o café brasileiro, também taxado pelo governo norte-americano em 50%. Como a Colômbia, outro grande produtor de café, foi onerada em somente 10%, ela poderia exportar todo o seu café para os EUA e repor seus estoques com café brasileiro.
Em suma, enquanto no curto prazo as tarifas impostas pelo governo Trump terão o efeito de desorganizar as relações de troca existentes, no médio e longo prazo serão absorvidas pelos players de cada setor e reconfigurar as posições existentes.